#32
na cidade
era silêncio
o barulho
na cidade
era silêncio
o barulho
a máquina de dinheiro amava
a máquina de café que amava o homem
que não amava ninguém
a máquina de dinheiro fez um poema de amor
para a máquina de café que fez cerveja
para o homem que ficou bêbado
e gastou todo seu dinheiro na máquina caça níquel
que não tinha entrado na história
sabe aquele poema bem bonito que você leu
e ficou batendo na sua cabeça por horas
olhando pela janela do ônibus
aquele poema que parece que foi escrito
por um homem de aço de três metros de altura
e cospe fogo
e tem olhos vermelhos
aquele poeta está aqui
na minha frente tomando cerveja
ri de umas piadas tão sem graça
e faz umas também olha o celular e pede desculpa
por mandar mensagem para namorada
conta histórias de suas viagens
de quando foi para o interior da América do Sul
uma pessoa mais normal do que você
mais normal do que eu
assiste seriado e comenta que o livro era bem melhor
aquele poeta
ele mesmo
enchendo o meu copo pedindo mais cerveja
enchendo a boca com um frango à passarinho gorduroso
veio um sentimento de que a poesia
é tão banal quanto aquele frango à passarinho
mas como é gostoso um frango à passarinho
amor move
montanha. Inércia
e gravidade, o mundo
tomou um ar
e viu a inspiração
expirar