Sobre a morte

A língua portuguesa chega a ser tão engraçada que sorte rima com morte. Sorte de quem está morto. Não tem nenhuma preocupação. Apenas o silêncio. O morto tem dois aniversários. Coitado de quem morre no mesmo dia que nasceu. Como nascer no dia do Natal. Eu quero morrer e não deixar nada. Quero que as pessoas sigam normalmente suas vidas. Lembrem-se que fui uma pessoa boa. Sem críticas. O diploma, a carreira e o arrependimento acabam junto com a morte. Serei homem morto com aniversário de morte, quando pessoas jogarão flores em mim. Por favor, não joguem flores em mim, deem para alguém ainda vivo. Sigam em frente, corram para chegar em tempo no trabalho. Fiquem estudando até mais tarde para aquela prova. Levem seus filhos para a aula de natação após a escola. Não lembrem dos mortos. Lembrem de suas ideias. Discutam ideais, não pessoas. Digno ou não, quero morrer e deixar um pensamento…

…algo que ainda não pensei na verdade.