#3
A pá
lavra dentro
da palavra
A pá
lavra dentro
da palavra
Estrela cadente
no teto do quarto…
…e tão distante
A cidade ao fundo,
do topo da torre
Pararam o mundo.
Meus amigos chamam-me poeta, piadas a parte, meia palavra basta. Minha poesia é tão sem rumo, tão sem graça que se esquece de si mesma. Noutro dia passou do ponto e teve que voltar a pé na chuva, e você acha que ela lembrou do guarda-chuva?
Contudo tenho uma boa explicação porque minha canção arranha teus ouvidos. Eu cresci num país onde a cultura nacional tocava no rádio e na TV (nada contra os profissionais de jornalismo) e o livro coitado, sempre de lado. Sempre o último a ser escolhido na partida de futebol. Um país onde a bola pesa mais. Meus amigos, para cada bola que temos deveríamos ter dez livros! Não seríamos alegres apenas dentro das quatro linhas. Nas linhas do caderno também temos sensações, cores, amores e palavrões.
E aí, eu conheci a poesia. Tarde demais, tinha de ter começado no máximo aos doze, pra preparar o corpo e a mente. Para com dezoito (quem sabe) ser profissional. Mas o que acontece com aqueles que não conseguem ser profissional aos dezoito? Estes são os que estudam de noite e trabalham de dia por quatro anos…serão os pais e mães que vão comprar mais bolas do que livros para seus filhos.
Como mudar esse panorama? Como criar novos pensadores? Poesia não se vende aos montes, leve três pague dois. Poesia, no iníco, precisa de preparo, cinco andando cinco correndo. Quando vê é maratonista! Assim, a literatura não morre. É pior que cupim. Invisível (obrigado Leminski) por debaixo das portas e tapetes. Espalhando a poeira. Empurrando as pedras no caminho e fazendo-me tropeçar.
Desse meu hobbie não largo mais, leio e releio e ainda não entendo o poema. E, falando sério, só escrevo pra mim, se alguém vai ler ou reler, quero nem saber.
Apenas queria um pouco mais. Porque este livro já está no fim e vou ficar assim, meio assim, depois da última página.
O tempo tem passado e tem muito para contar. Passa e distrai, o tempo, rápido, afasta, expande o espaço. Inverte o espaçotempo e distorce a luz. Nem lembro mais da voz.
Passa o passado no pensamento, passa o futuro nas memórias. Penso, logo passo. O possível tem passagem, ímpossivel no passado. Quando vive (e morre) o gato: um impasse ultrapassado.
Passa o tempo, passam os dados, metadados, metaverso inverso do universo. Você pediu para passar pelo passado. Mas parou aí, passível.
Hoje o tempo faz festa e não faz festa o mesmo tempo.